A história do administrador de empresas Fabio Henrique Santos com o Rabbit 1984 desta reportagem nasceu para ser passageira. Quando ele se uniu a um amigo que mora em Miami, nos Estados Unidos, para trazer ao Brasil o Volkswagen, versão conversível do Golf de primeira geração para o mercado norte-americano, a ideia era revender o carro depois de algum tempo. O plano se concretizou, não sem alguns percalços no caminho.
Primeiro a dupla pensou em escolher um Camaro, um Mustang ou algum modelo da Buick, divisão de luxo da GM norte-americana. Como os preços não cabiam no orçamento definido para a aquisição, de US$ 7 mil (cerca de R$ 25 mil, no câmbio atual), os amigos mudaram o foco.
“Passamos a buscar um modelo de marca conhecida no Brasil, que tivesse público fiel e ao mesmo tempo oferecesse algum diferencial, e chegamos ao Golf de primeira geração”, conta Santos.
Vasculhando leilões pela internet, encontraram um Golf GTi dentro da faixa de preço desejada, mas não conseguiram arrematá-lo. Na semana seguinte, apareceu o Rabbit. Não era esportivo, mas, além de conversível, fazia parte de uma série limitada, Wolfsburg Edition, com acabamento exclusivo. Bateram o martelo.
Para quem era novato na aventura de trazer carros do exterior, Santos parecia estar tendo sorte. Com 124 mil km rodados, o VW estava em excelente estado, com a carroceria íntegra e a documentação em ordem. O revestimento de couro dos bancos era o único detalhe não original – eles vinham de fábrica forradas de veludo, com couro apenas nas laterais.
“O carro estava pronto. Só troquei os pneus e as pastilhas de freio. Se gastei US$ 250 (R$ 850), foi muito”, diz o administrador.
Na hora de trazer o carro ao Brasil, porém, a maré virou. Os despachantes contratados por Santos não executaram os trâmites corretamente e o Rabbit ficou retido no porto de Santos por quase seis meses. “Tive de gastar R$ 80 mil para desembaraçá-lo. Paguei taxa até para o Ibama”, ele lembra.
Depois de tanto tempo parado, o conversível precisou de uma boa limpeza e alguns reparos para recuperar o brilho. Além de receber bateria e alternador novos, o Rabbit teve itens como bomba de combustível substituídos por peças da linha AP nacional, mais adequadas à gasolina em uso no País.
Carismático. Ao volante do VW, Santos teve uma sensação de familiaridade. “Eu me senti guiando um Gol GTS: a mesma relação de marchas, a aceleração típica dos motores da família AP, a buzina em botões redondos na direção. Foi como voltar no tempo, pois meus pais tiveram vários exemplares de Gol durante a minha infância.”
No primeiro passeio com a esposa, o domingo ensolarado estava perfeito para recolher a capota. Mas o casal ignorou um cuidado que os donos de conversíveis não esquecem: o filtro solar. “Não nos ocorreu nem mesmo levar um boné. Quase tivemos uma insolação. Posso dizer que aquele passeio deixou marcas em nós”, brinca o administrador.
Pelas ruas, o Rabbit despertou curiosidade: poucas pessoas sabiam de qual modelo se tratava, já que o Golf só desembarcou no País na terceira geração, em 1994. “Muitos perguntavam se era um Gol que eu havia cortado. Alguns poucos lembravam de filmes em que o Rabbit havia aparecido”, lembra Santos. “Mas todos olhavam para ele com simpatia, mesmo quem não o conhecia. É um carro muito carismático.”
Foram exatos doze meses de convivência feliz, até que chegou a hora de passar o VW adiante, há algumas semanas. Tudo conforme o previsto, salvo por um detalhe que não estava no plano original: o aperto no coração na hora da venda.
“Não era para eu gostar dele, mas criei carinho. É um carro muito gostoso, que dá até para usar no dia a dia. Se minha situação financeira tivesse permitido, eu teria ficado com ele”, reconhece o administrador. “Tomara que o próximo dono cuide tão bem dele quanto eu.”
*Fonte: Jornal do Carro/Crédito: Werther Santana/Estadão