2017 foi um ano de muitos achados, porém em qualidade não conseguiu superar 2015, naquele ano foram somente três achados, mas ao menos a qualidade compensou a escassez. No começo do ano foi um Bugatti Brescia, que ficou guardado por 40 anos. Depois, em outubro, foram dois esportivos Ford: um XR3 brasileiro quase zero km e o primeiro protótipo do Mustang Boss 302!
O outro grande achado foi nada menos que este raríssimo Dodge Charger Daytona 1969 — uma das 503 unidades produzidas para homologar a carroceria aerodinâmica na NASCAR. Ele rodou só 33.000 km antes de acabar esquecido em uma fazenda nos anos 1970.
A história do Daytona começou em 1969, quando os carros da NASCAR eram realmente “stock” — sem estruturas tubulares sob bolhas de fibra movidas por motores padronizados. Sendo muscle cars enormes dos anos 1960, eles eram tão aerodinâmicos quanto um container, e apesar do motor sobrar nas pistas, a resistência ao vento era um problema. Assim, naquele distante 1969 algum engenheiro da Dodge tentou resolver o problema instalando um cone na dianteira do Charger e uma enorme asa na traseira, e rebatizou o carro de Dodge Daytona. Eles então produziram 503 unidades para homologar o carro e o colocaram nas pistas já naquele ano.
O mítico piloto Richard Petty, na época contratado pela Plymouth, percebeu as vantagens e solicitou à Plymouth que fizesse algo semelhante. O pedido foi inicialmente rejeitado, mas em algum momento da história os engenheiros da Plymouth começaram a trabalhar no Superbird e acabaram produzindo as unidades necessárias para homologação. Os “aero-cars” conquistaram a maioria das vitórias em 1969 e 1970, até que os comissários da NASCAR mudaram o regulamento, preocupados com as velocidades perigosamente altas — eles passavam de 320 km/h em ovais rápidos, como Talladega — e com o fato de os carros não se parecerem com nada muito popular nas ruas, banindo-os das pistas da temporada de 1971.
Outra versão da história, diz que a Ford teve influência nesse banimento, pois não conseguiu fazer um carro para rivalizar com o Daytona e o Superbird, contudo, a marca do oval azul chegou a produzir uma versão aerodinâmica do Torino, que nunca se tornou realidade justamente por conta do banimento dos aero cars.
Este exemplar coberto de ferrugem e esquecimento foi produzido em 1969 e comprado por um juiz como presente para sua esposa (seria um presente de grego ou uma esposa petrolhead?). Ela usou o carro até 1974, quando o vendeu para um fazendeiro do Alabama, que acabou esquecendo o carro em um galpão de sua propriedade.
Quatro décadas depois, ele se convenceu que talvez seja melhor vender o carro para alguém que possa trazê-lo de volta à vida. Apesar do estado de conservação não ser dos melhores, este é um legítimo Dodge Charger Daytona 1969 praticamente todo original: o bodykit aerodinâmico — cone dianteiro, bolhas dos para-lamas, acabamento mais largo na coluna A e asa traseira — saíram da fábrica exatamente onde estão, assim como a alavanca de câmbio cromada, o console central, bancos com encosto de cabeça e o rádio.
Tudo isso faz dele um carro extremamente valioso mesmo no estado em que se encontra — afinal estamos falando de um dos únicos 503 Daytonas construídos, e sua restauração não é trabalho para iniciantes ou aventureiros. Assim, a casa de leilões Mecum Auctions espera faturar algo entre US$ 150.000 e US$ 180.000.
Para se ter uma ideia do potencial deste muscle car aerodinâmico, a própria Mecum Auctions tem um exemplar com 10.000 km e câmbio automático de quatro marchas anunciado por US$ 1.000.000. Então é realista dizer que este Daytona de R$ 180.000 pode passar facilmente dos US$ 800.000 depois de uma restauração cuidadosa.
Quer mais sobre o potencial desse carro? Segura essa, de um exemplar já completamente restaurado:
Com informações do FlatOut