Já imaginou que um VW Fusca 1964 um dia poderia valer cerca de R$ 1,5 milhão? Em 1964, um cavalheiro de Portland, no Oregon, nos Estados Unidos, teve suas preferências pessoais sobre o design de um carro pequeno atendidas por uma pequena mudança, o que acabou por transformar-se em um grande negócio. Ele expressou sua desaprovação quanto à decisão da montadora de ampliar a área geral da superfície de vidro do veículo e decidiu não comprar o próximo modelo do ano.
O nome do homem em questão era Rudy Zvarich, e em 1964, ele era proprietário de um Fusca modelo 1957. Quando soube das atualizações de design realizadas pela empresa alemã, ele decidiu comprar a nova versão do modelo de 1964. Embora o carro de duas portas fosse extremamente popular, encontrar a variante perfeita não foi uma tarefa fácil. No entanto, em 13 de julho, ele finalmente encontrou o carro perfeito dentre os mais de um milhão de unidades produzidas naquele ano.
A fatura emitida na época foi de US $ 1.756,90, uma quantia considerável para um carro no início dos anos 60. É verdade que o carro não oferecia muito pelo valor pago, tampouco vinha com uma lista longa de opções. Na verdade, ele não vinha com nenhuma lista de opções, seja ela longa ou curta. Ao verificar a galeria de fotos, pode-se observar que este modesto Volkswagen tinha apenas dois recursos encomendados pelos clientes: um conjunto completo de pneus com parede branca e o interior revestido de couro vermelho.
Os dois extras adicionados totalizaram um preço aceitável de 65 dólares. Embora pareça um valor razoável, surge uma pergunta importante: o que torna um VW Beetle tão especial dentre os mais de 21 milhões produzidos?
O carro foi posto à venda há cerca de quatro anos e meio com um preço ajustado pela inflação de um milhão de dólares americanos (Mais de 5 milhões de reais). Apesar do estado impecável do veículo, ninguém o comprou. E quando eu digo “impecável”, quero dizer exatamente isso. O hodômetro marcava apenas vinte e duas milhas (os críticos de plantão irão dizer que tecnicamente não é 0km como diz o título da reportagem, porém sejamos sinceros, faz alguma diferença essas milhas?), o carro nunca havia sido registrado e, até 2018, nunca havia sido lavado.
Até mesmo as peças que o comprador poderia instalar estão em suas caixas originais (como espelhos, calotas, limpadores de para-brisa e outros). O carro ainda está à venda, agora pelo preço mais “modesto” de US$ 290.000 (Cerca de 1,5 milhão de reais). Apesar de sofrer uma enorme queda de preços no estilo Black Friday, com “71% de desconto”, este pequeno automóvel com motor traseiro preto ainda se tornaria o Volkswagen Fusca mais caro do mundo.
Se alguém oferecesse esse valor, o negócio estaria fechado. Apesar de ser preservado com muito cuidado – fluidos drenados, coberto por um manto e cercado por várias camadas de proteção – a garagem está cheia de meio século de coisas empilhadas apressadamente ao redor do carro, como se fossem “cargas de caminhões basculantes”.
O carro foi comprado para substituir o Fusca de 1957 mencionado no início desta história. No entanto, isso nunca aconteceu, principalmente porque o proprietário, que tinha habilidades mecânicas, sempre manteve o seu carro em perfeitas condições de funcionamento. Como resultado, o VW Beetle de 1964 teve apenas uma experiência nas estradas – uma experiência ilegal.
Rudy Zvarich comprou o seu carro em julho de 1964, mas a sua garagem não era grande o suficiente para acomodar outro veículo. Por isso, ele pediu a um amigo que lhe emprestasse um espaço temporário para guardar o Fusca. Em seguida, dirigiu da concessionária até a casa do amigo.
Após a compra em julho de 1964, Rudy Zvarich precisou pedir ajuda a um amigo para guardar seu novo carro em sua garagem temporariamente, já que sua própria garagem não comportava mais um veículo. Sem permissão de uso da via pública, como licença, registro ou seguro, ele conduziu o Fusca durante a noite escura até a casa do amigo.
Esse “temporário” durou cerca de dois anos, até que Zvarich construiu sua própria garagem em 1966. Foi então que o carro foi levado para lá, percorrendo 22 milhas (35 km) em seu hodômetro. Hoje em dia, o hodômetro registra 23 milhas (37 km), tendo acrescentado apenas uma milha durante a remoção do Fusca de seu sono de cinco décadas.
De acordo com o Razvan Calin, do Auto Evolution, sabendo que não usaria seu carro por um tempo considerável, o dono decidiu drenar seus fluidos, elevá-lo com blocos e cobri-lo para protegê-lo. Vários anos depois, seus sobrinhos estavam brincando na garagem e sem querer arranharam o para-lama do carro. Apesar de ficar irritado com o incidente, o dono Zvarich aprendeu uma lição valiosa e decidiu tomar uma medida de proteção incomum: guardar tudo e qualquer coisa que pudesse ser valiosa, incluindo seu carro.
Até 2014, o carro estava cercado por uma grande quantidade de objetos sem valor após a morte do proprietário original. Em seguida, o carro passou para um dos sobrinhos envolvido no incidente do para-lama, porém, a família do novo proprietário optou por vendê-lo.
Depois de uma investigação detalhada, que incluiu uma viagem ao museu da fábrica da VW na Alemanha, o preço do carro foi estabelecido em US $ 1 milhão. Ao que parece, não há nenhum outro Volkswagen deste modelo com tão poucos quilômetros rodados pertencente a um cliente comum em qualquer lugar do mundo. Vale ressaltar que exposições de museus e outras construções não destinadas ao uso rodoviário não são consideradas nesse contexto.
Apesar de nunca terem encontrado um comprador disposto a pagar o preço elevado, a única vez que o carro foi vendido foi em 13 de julho de 1964. No entanto, os novos proprietários ainda têm esperança de encontrar alguém que esteja disposto a pagar os US$ 290.000 exigidos pelo veículo.
Embora não tenha relação com a venda do carro, é importante destacar que este veículo de 1964 é equipado com o motor boxer original de quatro cilindros, que produz 40 cavalos de potência (40 PS) e 64 lb-ft (87 Nm) de torque. O ícone da era dos motores a pistão, que pesa 1.600 lb (726 kg) e tem um design aerodinâmico, conseguiu uma impressionante marca de 32 mpg (milhas por galão) na estrada, o que equivale a 8,8 litros / 100 km.
Vale ressaltar que em 1964, a América estava testemunhando o surgimento de dois dos mais icônicos carros com apelo animal de sua história: o Mustang e o Barracuda. Nessa época, a eficiência de combustível não era uma grande preocupação para a maioria dos americanos, que podiam abastecer seus carros por cerca de 30 centavos de dólar por galão de 3,8 litros.
Porém, houve uma exceção: um homem do Oregon decidiu que o Fusca de 1,2 litro de 1964 era o conjunto mais incrível de máquinas autopropulsadas que o dinheiro poderia comprar e, assim, adquiriu um exemplar para fazer história.
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