Para muitos motoristas, carro é como uma casa vazia: ganha sentido apenas quando repleto de cores, acessórios e modificações. Faróis recebem lâmpadas coloridas, suspensões são rebaixadas até o carro quase tocar o chão e motores ganham cavalos. O desafio dos amantes do tuning automotivo é encaixar a criatividade no que determina a legislação. Em 2014, o Detran gaúcho chegou a emitir 61 mil multas por modificações proibidas em veículos. Neste ano, já são 16 mil.
— Muita gente não sabe o que pode e o que não pode fazer no carro. Pedem rebaixamento ou um tipo de lâmpada e se surpreendem ao saber que não é permitido — explica Eduardo Fernandes, proprietário da loja de acessórios para tuning CHT, em Porto Alegre.
Mudanças na estrutura do veículo dependem de autorização. As regulações do Contran seguem a lógica da segurança no trânsito. A lâmpada de xênon — que emite três vezes mais luz do que as comuns — é o caso mais ilustrativo. Carros que já venham de fábrica com xênon também trazem um bloco ótico adaptado, para não atrapalhar a visão de outros motoristas. Instaladas em faróis convencionais, essas lâmpadas ficam fora de posição.
— Mesmo a instalação de um bloco para adaptar xênon em carro comum deixou de ser permitida, pois há risco de que fique desregulado — ressalta Túlio Verdi Filho, chefe da divisão de Registro de Veículos do Detran.
Rodas e pneus não devem ultrapassar o diâmetro do conjunto original — podem se chocar com o para-lamas em caso de pancada ou solavanco ao passar por um buraco, tirando o carro de controle. Regra parecida vale para a potência dos motores, que só pode ser aumentada em 10%. Carroceria, rodas, sistema de freios e suspensões são feitas para suportar um determinado limite de velocidade e aceleração.
Por outro lado, melhorias estéticas são permitidas — mesmo que sua instalação seja questionável sob o ponto de vista econômico. Além de ter efeito quase nulo na estabilidade e na velocidade de carros comuns — a exceção são os superesportivos —, aerofólios, spoilers e defletores laterais “consomem” mais combustível. Um mero rack pode aumentar o gasto com gasolina em 7%.
Para os amantes do tuning, esse é o menor dos custos. O contador Ivan Vargas de Souza, 41 anos, já investiu mais de R$ 25 mil para personalizar seu Hyundai Tiburon, que usa para ir trabalhar e também exibe em torneios. Diz já ter recebido uma oferta difícil de recusar, mas se manteve firme:
— Poderia ter comprado um Camaro com o que me ofereceram. O problema é que existem dezenas de Camaros por aí, mas igual ao meu, todo personalizado, jamais vou encontrar. (RBS)