Há quase dois anos a Polícia Federal deu início à maior operação da história da instituição: a Lava Jato. De lá para cá, entre delações premiadas, repatriação de dinheiro roubado, mandados de prisão e uma série de abalos sísmicos nas estruturas da república, eles também apreenderam alguns carros. E como estamos falando de quantidades obscenas de dinheiro roubado, boa parte dos carros são dignos das nossas garagens dos sonhos.
Os primeiros carros apreendidos pela Lava Jato, já na sua primeira fase, foram um Mercedes-Benz CLS 500 2007 — o cupê de quatro portas que deu início à moda dos cupês de quatro portas equipado com um belíssimo V8 de 5,5 litros e 388 cv —, um Volkswagen Tiguan, um Porsche Cayman e um Toyota Camry. Os carros eram do doleiro Alberto Youssef, de sua namorada Nelma Kodama, também doleira, e Carlos Alexandre Rocha, o “laranja” do casal.
Nas fases seguintes, a Polícia Federal apreendeu também um BMW M6 Coupé 2013, Mercedes-Benz GLK 280 2008, BMW X5 M 2008, BMW 550i 2009, e um Mercedes-Benz SL 63 AMG 2010. Estes carros foram leiloados para ressarcir os cofres públicos.
Mais tarde, em julho de 2015, a 15ª fase da Lava Jato chegou ao ex-presidente Fernando Collor. Mas desta vez não havia nenhum Fiat Elba envolvido — muito menos sua neta Palio Weekend. Na ocasião foram apreendidos um Lamborghini Aventador Roadster, uma Ferrari 458 Italia, um Porsche Panamera S e um Bentley Continental Flying Spur. Collor ainda tem um Rolls-Royce Phantom, mas o fantasma britânico escapou das mãos dos federais.
Os carros legais voltaram a aparecer em uma das mais recentes fases da Operação Lava Jato, a 23ª, batizada de Operação Acarajé. Para quem não está totalmente atualizado a respeito (o que não é nenhum pecado, visto que é um assunto bem complicado), trata-se de uma investigação de uma enorme rede de corrupção que envolve a Petrobrás, empreiteiras e partidos políticos.
A Operação Acarajé consistiu no cumprimento de 51 mandados em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Salvador. Aliás, o nome “Acarajé” tem menos a ver com a capital baiana e mais com o apelido dado para as propinas em dinheiro vivo. Um dos presos na operação foi o engenheiro Zwi Skornicki, que era um dos operadores do esquema de corrupção e teria pago, ao todo, cerca de R$ 14 milhões em propinas.
Eventualmente, além das prisões, são efetuadas apreensões dos bens dos envolvidos. E por que estamos falando disso aqui no FlatOut? Simples: porque, entre os bens de Zwi, estava uma bela coleção de carros clássicos.
Foram divulgados dois vídeos feitos pela Polícia Federal na casa de Zwi, que fica na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde o engenheiro foi levado em prisão preventiva. Não foi a primeira vez que isto aconteceu: no início de 2015, a PF já havia visitado a casa de Zwi e recolhido carros, dinheiro e obras de arte valiosas.
A gente sabe que, ao mesmo tempo em que existem leitores completamente antenados na política atual, há aqueles que não perdem o sono por isso. No entanto, todo mundo aqui é entusiasta e quer saber dos carros, é ou não é? Infelizmente, tudo o que há são os vídeos divulgados pela Polícia Federal e publicados pela revista Época. Ou seja: não dá para ter muitos detalhes a respeito dos modelos exatos e anos de fabricação. Por outro lado, com um pouco de atenção dá para identificá-los com razoável precisão.
De cara, vemos um Alfa Romeo Spider (pelos para-choques, um exemplar fabricado depois de 1983, quando foram adotadas peças de borracha) e um Chevrolet Bel Air (1955, pelas lanternas traseiras) customizado e certamente preparado (repare na largura dos pneus traseiros!).
Logo ao lado, vemos um Chevrolet Corvette Sting Ray conversível (de acordo com alguns veículos, trata-se de um 1966) entre dois roadsters da Mercedes-Benz: um 280SL “Pagoda” da geração W113, produzida entre 1967 e 1971 e dotada de um seis-em-linha de 2,8 litros e 170 cv; e um R107, geração seguinte (não é possível identificar o modelo exato).
Por último, vemos um Porsche 911 SC Targa — para muitos, o mais atraente da coleção. O Porsche 911 SC foi introduzido em 1978 ,com motor flat-six de três litros e 180 cv. O modelo com teto targa é um dos mais comuns no Brasil — possivelmente por causa de seu preço bem mais em conta em comparação com o 911 Cabriolet contemporâneo, quando novo.
O vídeo acima é uma versão mais longa. Nela, aparecem outros carros — um Bentley da década de 1980 e um Roll-Royce mais antigo, uma Kombi Last Edition e um Chevrolet Corvette Sting Ray vermelho 1963 — o raro modelo split window. Isto no pátio da casa, pois em um galpão (aparentemente, mais afastado), havia uma lancha.
Do ponto de vista entusiasta, a preocupação maior é a seguinte: para onde vão todos estes carros depois que são apreendidos? Pois bem: o procedimento padrão é que eles sejam leiloados para ressarcir, ao menos em parte, o rombo causado pelas propinas e desvios de verba. Os leilões precisam ser autorizados e marcados pela Justiça Federal.
No caso das obras de arte (que costumam ser compradas em esquemas de lavagem de dinheiro), elas são repassadas a museus — normalmente, o Museu Oscar Niemeyer, que já abriga quase 300 quadros e esculturas provenientes das apreensões da Operação Lava Jato.
Fonte: DALMO HERNANDES/FlatOut