Enquanto alguns colecionadores de antigos se dedicam a uma certa marca ou época, o foco do engenheiro mecânico João Carlos Bajesteiro está nos modelos pequenos, como Romi-Isetta e Mini Cooper. Mas seu xodó é um Renault 4CV de 1954.
O hobby surgiu na vida de Bajesteiro em 1982, quando ele ganhou um Romi-Isetta de presente do irmão. “O carro estava muito danificado. Aí comprei outro, e a coisa começou. Meu pai teve um Renault 4CV e, quando surgiu a oportunidade de comprar um exemplar, em 2006, não pensei duas vezes.”
A originalidade intacta do sedã fez com que o engenheiro relevasse o desgaste acentuado de itens como pintura e suspensão. Quando a cegonha que trouxe o Renault de Porto Alegre chegou à capital paulista, Bajesteiro já sabia o que tinha de fazer: respirar fundo e desmontar a relíquia, peça por peça.
O trabalho de restauração consumiu dois anos. Da França, vieram peças como motor, tapetes, borrachas e calotas. Empenhado, o colecionador pesquisou informações em clubes dedicados ao carro e tutoriais na internet para reconstituir a tapeçaria à luz dos preceitos originais. “Tive até de resgatar o idioma francês, que eu havia aprendido na escola”, conta.
Tanto esforço foi recompensado. Atualmente, o Renault 4CV dá muitas alegrias e pouco trabalho ao dono, que só precisa fazer a manutenção de praxe: trocar o óleo do motor, peças como lonas de freio e, eventualmente, regular o carburador. A única dificuldade é repor a bateria de 6 volts, feita por uma única fabricante no País.
Como mora na Granja Viana, é fácil para o engenheiro chegar às rodovias Raposo Tavares e Castelo Branco. Mas ele diz que prefere rodar por estradas vicinais para poder curtir o sedã com tranquilidade. “Ele não passa dos 90 km/h. O motor de 0,8 litro e 32 cv era moderno para os anos 50, quando começou a ser feito, e até fez o 4CV ganhar corridas, graças à leveza do conjunto. Mas hoje a gente vê as limitações dele.”
Susto. Essas limitações ficaram evidentes em um episódio ocorrido na volta de um evento de antigos em Águas de Lindoia, no interior paulista. Era para ter sido um comboio de três antigos, mas os outros dois tiveram problemas mecânicos e Bajesteiro teve de voltar sozinho com seu 4CV para a capital.
“Em um dado momento, um caminhão surgiu e ‘colou’ na traseira do meu carro, jogando fachos de farol, buzinando e me ameaçando. Ele quase me tirou da estrada, mas segui viagem impávido, a 80 km/h, e no final deu tudo certo”, afirma.
No Brasil, modelo recebeu o apelido de ‘Rabo Quente’
O Renault 4CV surgiu em 1946 como um carro popular, barato e econômico, para ser usado em uma França combalida pela Segunda Guerra Mundial. O modelo foi inspirado no projeto de “carro do povo” desenvolvido pela Alemanha, que deu origem ao veículo que ficou conhecido no Brasil pelo nome de Fusca – os primeiros protótipos tinham frente parecida com a do “besouro”.
No lançamento, o motor do Renault rendia apenas 17 cv. Depois, vieram as versões Grand Luxe (21 cv) e Sport (32 cv). Com desenho simpático, o carrinho somou mais de 1 milhão de vendas na França, onde ganhou o apelido de “Tablete de Manteiga”, em alusão à cor bege das primeiras unidades. Aqui, onde chegou nos anos 50, recebeu uma alcunha mais irreverente. “Rabo Quente” faz alusão ao motor na traseira, até então inédito no País. O 4CV teve a produção encerrada na França em 1961.
Fonte: Jornal do Carro/Fotos: Crédito: Gabriela Bilo/Estadão