Solitário, homem de 30 anos gasta todas as economias em carro para tentar conseguir uma namorada

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“Meu drama é conseguir uma mulher”, conta o funcionário público curitibano Adial Ribeiro Godoy Júnior. A tal ponto que ele, auto-apelidado Dance Boy, circula pela capital paranaense num velho Del Rey ostensivamente pintado de cor-de-rosa e azul com mensagens que, acredita, irão ajudá-lo a encontrar sua cara-metade.

“Quero conhecer gatinhas extrovertidas”, propõe o Dance Boy num cartaz fixado no teto do carro. A mensagem grafada nas portas do “Dancemóvel” é mais direta: “Mulherada: se vocês querem direitos iguais, então por que ainda esperam que nós homens é que tomemos a iniciativa em cheguemos em vocês?”. No vidro traseiro, um tanto de desapontamento com as gurias: “O mal das garotas curitibanas é o orgulho”, sentencia.

Imagem: Rafael Martins/UOL

“As mulheres aqui são muito fechadas”, lamenta-se Adial, que nasceu na capital de pais vindos do Norte do Paraná. “Não me adapto com as curitibanas, nem com Curitiba. Todo mundo aqui é muito frio. Curitibano extrovertido é exceção.”

É por isso que ele resolveu escancarar a solidão e a busca por um amor eu seu carro, sua bicicleta e nas camisetas que veste para circular pela cidade. “Eu sou tímido, não consigo ‘chegar’ nas mulheres. Então, se não fosse assim, não seria como. E eu tive mais sucesso assim. Tem que ser diferente para chamar a atenção”, teoriza.

Imagem: Rafael Martins/UOL

Até agora, porém, nada sério. “Consegui ficar com algumas mulheres. Mas não é o que quero. Quero a mulher da minha vida. Não tenho mais 16 anos”, afirma. Ainda que acredite que “as mulheres que curtem o que eu curto são mais jovens”, Adial diz não fazer restrições. Ou quase. “Só não quero uma que tenha filhos. Não estou disposto a assumir filho dos outros.”

Na balada, roupa com leds

Adial se recusa a revelar a idade e onde trabalha. “É pra não misturar as coisas”, argumenta. Os cabelos rareando no alto da cabeça e a barriga que começa a despontar sob a camiseta (“Estou fazendo dieta com uma nutricionista para perdê-la”) indicam, porém, que já passou dos 30 anos.

Imagem: Rafael Martins/UOL

“Eu frequentava muita danceteria nos anos 1990. E, como todo mundo, quero arranjar uma namorada, mas não conseguia de jeito nenhum. Tentei de tudo, anúncio em jornal, bate-papo na internet, me apresentar nas baladas. Até refiz o ensino médio, que tinha concluído no supletivo, mas nada”, conta.

“Lá por 2000, meu chefe deu a ideia de fazer a camiseta, dizendo que eu estava interessado nas meninas. E eu ia com ela para as danceterias. Em 2002, vi um táxi com anúncio luminoso no teto, e resolvi copiar.” Surgiu o primeiro “Dance móvel”, então um velho Fusca.

Imagem: Rafael Martins/UOL

Como as garotas não vieram, a fantasia foi se aperfeiçoando. Para personalizar o velho Del Rey, Adial estima que gastou cerca de R$ 2.000. “Isso foi na pintura, os dizeres, o sistema de som, o prisma com auto-falante e um globo de discoteca”, enumera.

“E tenho um traje iluminado, com leds, que uso para ir às baladas”, conta. “Se antes eu não era visto, agora não tem como.” O apelido veio do gosto pela dance music dos anos 1990, que ele dança nas baladas domingueiras ainda comuns na periferia de Curitiba.

Imagem: Rafael Martins/UOL

Lugar errado

Questionado se a sisudez das curitibanas não seria melhor enfrentada de maneira mais discreta, Adial tem a resposta na ponta da língua. “Toda minha vida fui discreto, até começar a andar como Dance Boy. E nunca deu certo”, crava. “Muitos dizem que não vou conseguir ninguém com essa roupa. Respondo que também não conseguia antes. Então, qual a diferença?”

Imagem: Rafael Martins/UOL

Para ele, a solidão é mesmo culpa da frieza das curitibanas. “No Rio, certa vez duas gatas me abordaram, no aeroporto, curiosas com minha camiseta. Se tivesse nascido lá, talvez nem precisasse dos anúncios. Acho que nasci no lugar errado”, lamenta-se. Por isso, presta concursos públicos de nível superior (é graduado em Geologia pela UFPR) noutras cidades do país.

Enquanto isso, segue a vida na capital paranaense. Como sempre, chamando a atenção. “Outro dia, uns policiais disseram que me viram no Facebook e que torcem por mim. Pena que não eram da polícia feminina. Aí é que está. Os elogios que recebo nunca são de quem eu quero.”

Fonte: Uol

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