O mundo não é exatamente justo e o Fiat Marea é um daqueles carros que sentiram isso na lata aqui no Brasil. Confortável, com desempenho capaz de eriçar cerradas sobrancelhas e desenho instigante para a época, o modelo médio amargou a fama de “bomba” em fóruns e conversas automotivas com o passar do tempo.
Ainda assim, seus proprietários garantem que não é bem assim e afirmam: o carro compensa qualquer dor de cabeça.
Recentemente ouvimos donos do antigo sedã (que também teve configuração perua) e dá a letra para que estereótipos não se apoderem do Fiat Cronos, novo três volumes que a Fiat lançou antes do Carnaval.
1 – Fato: modelo requer mais cuidado de manutenção
A “bombástica” designação está diretamente ligada aos motores Fivetech que equipavam os sedãs no lançamento, em 1998, e também a variante station wagon Marea Weekend. O 2.0 de cinco cilindros e 20 válvulas podia ser aspirado, com 142 cv; ou turbinado, com 182 cv, na versão esportiva que surgiu no ano seguinte.
Essa variante Turbo é justamente a configuração que com mais fãs e que arranca suspiros de ex e futuros donos.
Mozart Thomaz Stefani, gestor de negócios e morador de São José dos Pinhais (PR), é dono de um Marea Turbo 2006, depois de ter tido um HLX 2.4 automático 2005. Ele reconhece que a mecânica do carro está longe de ser simples. Só que a relação custo/benefício da esportividade entregue compensa dores de cabeça.
“É fato que o Marea tem manutenção peculiar pela engenharia revolucionária da época com o motor de cinco cilindros, e o projeto, como qualquer um, tinha alguns pontos negativos. Mas a grande fama que o carro teve foi fruto de um despreparo do mercado nacional para as manutenções que o carro exigia”, rebate Stefani.
2 – Grande erro no Manual do proprietário
O passado condena o Marea já no manual do proprietário. Para muitos, um dos grandes pecados da linha é culpa da Fiat brasileira, mas a necessidade do modelo relevou peculiaridades do nosso mercado. A principal crítica diz respeito à troca de óleo, recomendada a cada 20.000 km e consumo mínimo de 350 ml do lubrificante a cada 1.000 km.
Era o mesmo padrão dos Marea europeus, mas a gasolina brasileira tem adição de etanol (22% na época), demandando ajustes que não eram feitos. Muitos modelos tiveram o motor fundido por formação e acúmulo de borra. Além disso, as revisões eram dispendiosas e muita gente fugia da concessionária.
Tratava-se de um motor moderno para o seu tempo, com comando de admissão variável e injeção sequencial, entre outros. Traduzindo: era complexo para muitos mecânicos, sem formação adequada. A troca da correia dentada, por exemplo, exigia cuidados e ferramental específico, pois, ao tentar travar a engrenagem do comando de escape com qualquer equipamento, corria-se o risco de danificar o sensor de fase.
Antes de estrear o 2.4 20V de 160 cv em 2000, o Marea teve versões com o motor cinco-cilindros com potência reduzida a 127 cv, além da opção 1.8 16V de 132 cv.
No fim da vida, em 2005, ainda ganhou configuração de entrada SX com o 1.6 16V de 106 cv.
3 – Pontos fortes
Essas peculiaridades fizeram a fama do Marea. Mas as virtudes do carro também. Tanto é assim, que o motor complexo também é o que mais atrai.
“Conforto, espaço interno e dirigibilidade se destacam. Mas o que mais me atrai, além do design, é o ronco inconfundível do cinco-cilindros, com a potência e o torque que o motor entrega”, destaca o vendedor Otávio Remuzzi Marostica. Morador de Sananduva (RS), tem dois aspirados: um sedã automático 2002 e uma Weekend HLX 2001.
E sem essa de que o carro não anda… . Pelo menos é o que garante o vigilante Raphael Cardoso Nascimento, de Guarulhos (SP), que trocou recentemente o Chevrolet Omega por sua atual Marea Weekend SX 1.6 2001.
“Tive um Omega por dez anos mas sempre tive vontade de ter um Marea. É um carro completo, muito confortável e o design, na minha opinião, é marcante, principalmente pela dianteira. O bom desempenho, acho que nem preciso comentar… é um Marea”, enaltece Marostica.
4 – Coisa de pele
Tem ainda quem imortalize o modelo, como Paulo Henrique dos Santos, morador de Araucária (PR). Há um ano, o operador de logística de 33 anos teve de vender seu Marea Turbo 2000 para comprar um apartamento.
Antes disso, porém, fez uma tatuagem do carro nas costas, em 2013. “Queria fazer uma ‘tatoo’. Daí, juntou a paixão pelo carro mais a vontade de fazer e acabou saindo”, explica Santos, que está de olho em três Marea para recolocar o modelo real na garagem: um Turbo ano 2000, outro sedã 2.4 automático 2003 e uma Weekend 2.4 2001.
Santos tem ainda recomendações para quem está atrás do Marea. “É importante checar principalmente o motor. Pela aparência já é possível se ter uma ideia de como ele era tratado. Fuja de reservatório de água sujo, vazamentos de óleo e mangueiras ressecadas”, avisa.
Mozart Stefani também indica ver o histórico de manutenção do carro, para saber se os proprietários faziam as revisões corretas do veículo. Além disso, ressalta que ter um mecânico de confiança — e sem medo — é o ideal.
“Leve a um mecânico especialista ou para amigos que entendam antes de comprar e se informem. Vejam se nas cidades onde moram tem quem goste e possa cuidar do carro. Levar um Marea para um mecânico que o odeia, ou que equivocadamente acha que vai ter que tirar o motor para trocar a correia, é o maior erro que o futuro dono pode cometer”, aponta.
+ Período de produção: 1998 a 2007 (sedã), 1998 a 2006 (station wagon)
+ Produção local: 54.800 unidades (sedã), 13.111 (station wagon)
+ Vendas no Brasil: 53.270 unidades (sedã), 18.336 (station wagon)
5 – Mitos e verdades
Mecânica complicada do Marea é mito, segundo donos e fãs. “Só quem teve um Marea sabe que não é um bicho de sete cabeças”, assegura Otávio Marostica. “A manutenção equivale a de um Corolla, Focus ou Vectra, com algumas peças mais caras e outras mais baratas”, compara.
A dica primordial — que deveria valer para todo automóvel, principalmente seminovo — é a manutenção regular e preventiva. Ou seja: se esperar o defeito aparecer, aí a bomba pode estourar na sua mão.
“Marea não aceita manutenção meia sola. É oito ou oitenta: ou é um excelente carro, de ótimo custo/benefício, de donos que faziam manutenção preventiva e não economizavam na qualidade das peças, ou uma dor de cabeça que toma a vida do proprietário, pois são oriundos de donos que faziam gambiarra”, corrobora Stefani.
Peças também não são mistério… a não ser quando são das versões Turbo. Como foram apenas 2.700 unidades vendidas (entre sedã e perua) — entre as mais de 70 mil produzidas no país –, os donos têm de recorrer a compras na Europa. A dica aí é pesquisar em sites de vendas e clubes de entusiastas do modelo.
Mesmo assim, o Marea Turbo ainda é o preferido. “As peças específicas da versão turbinada estão ficando muito raras e recorremos à importação. Por ser a mesma mecânica do Fiat Coupé na Europa, tem muita peça fora do Brasil”, explica Stefani.
Fontes: Fernando Miragaya, UolCarros e Motor1